O workshop de fotografia a cargo de Pauliana Valente Pimentel continua a atrair profissionais e amadores da fotografia para alinharem no desafio de retratar as muitas vidas que habitam e que são o Intendente. Durante vários dias, os alunos são desafiados a escolher um ponto de vista sobre o bairro da Casa Independente, para depois a retratarem através das suas objectivas. A riqueza de culturas e estilos de vida do Intendente, e os seus vários ritmos, idiomas e dimensões permitem que, em todas as edições deste workshop, os trabalhos sejam totalmente distintos. As leituras são assim únicas e irrepetíveis, qualidades que ganham ainda um maior destaque por partilharemq o espaço onde se desenvolvem. Nesta 8ª edição, no entanto, é possível encontrar um outro denominador comum: a alteração da importância do quotidiano do bairro que parece agora passado para segundo plano pela ‘maquilhagem’ provocada pelo turismo e gentrificação. O impacto deste fenómeno é hoje notório na vida das pessoas e dos negócios mais antigos do Intendente, obrigando a repensar a forma como olhamos para a cidade e para as pessoas que a fazem. A 17 de Julho, as paredes da Casa Independente passarão a estar preenchidas com as fotografias dos alunos Miguel Paté, Natália Castanheira, Carlos Gomes, Ana Ramirez e Ana Freitas Reis. O momento inaugural acontece às 21h e a entrada é livre. |
Sobre os Autores: |
Miguel Paté, “Mudança de Identidade” |
O Intendente está invadido de tapumes, andaimes, montes de entulho, guindastes e pilhas de materiais de construção provocados por um movimento iniciado em 2011, incentivado por medidas destinadas a eliminar e diminuir a marginalidade e acelerado pela gentrificação e reconversão das várias construções para fins turísticos. O que Miguel Paté faz notar no seu trabalho fotográfico é que, por detrás desta operação de cosmética existe um outro mundo, mais escondido, onde a zona típica que até há pouco tempo teve uma comunidade estabelecida está a tornar-se uma zona eminentemente turística, algo descaracterizada e quase sem população residente. |
Natália Castanheira, “Equilíbrio na Habitação” |
Os bairros não são só construções e regras de urbanismo. Eles são feitos pelas pessoas que o habitam. No trabalho de Natália Castanheira é gritante a preocupação com as transformações provocadas pelo turismo em massa e esvaziamento do povo que dá o carácter único do Intendente e há uma chamada de atenção nas suas fotografias: existe uma necessidade de equilíbrio, tanto no turismo como na habitação e na própria cidade. |
Carlos Gomes, “Palácios de Luar” |
Por detrás de uma fachada que o separa do mundo real, paredes meias com espaços habitados por todos, como a Casa Independente e o Sport Club Intendente, existe um outro mundo, parado no tempo, abandonado e só habitado pelos fantasmas daqueles que ali, em tempos, encontraram lugar para uma parte das suas vidas, em locais como bares, habitações, escritórios, jardins e esplanadas cheios de objetos que estão onde sempre estiveram e vistas sobre a cidade real, a do nosso quotidiano. |
Ana Ramirez, “195” |
195 é a soma da presença e influência da família Cunha no Intendente e é o nome da série que explora a barbearia do Sr. Júlio Cunha e o Sport Clube do Intendente, presidido pelo filho Paulo Cunha, os dois espaços mais antigos e ainda activos do largo. Numa altura em que a mudança acontece a uma velocidade alucinante, onde surgem novos negócios alimentados pelo turismo, o trabalho de Ana Ramirez transforma em memórias visuais da identidade da cidade os detalhes da beleza e da história dos dois espaços emblemáticos em fim de vida. |
Ana Freitas Reis, “Da janela” |
Ana Freitas Reis escolheu uma janela misteriosa, na Rua do Bem Formoso e decidiu entrar. Encontrou um casal, com as suas histórias, devoções, e objectos de culto, num micro-espaço que os abriga há muito tempo e de onde assistem e participam nos diversos encontros inter-culturais característicos do Intendente. O processo criativo que se inicia na janela, vai muito para além dela e através de Carlos e Eugénia levanta o véu das relações do quotidiano. |
SOBRE PAULIANA VALENTE PIMENTELLisboa. 1975. Como artista visual e fotógrafa freelancer, faz trabalhos de fotoreportagem desde 1999 para diversos jornais e revistas como exposições individuais e colectivas em Portugal e no Estrangeiro – Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha, Grecia, Turquia, EUA, China e Africa (Marrocos, Cabo Verde). Em 2005, participou no curso de fotografia do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística. Pertenceu ao colectivo [Kameraphoto] desde 2006 até à sua extinção em 2014. Em 2016 funda o novo colectivo “N’WE”. Em 2009 foi publicado o seu primeiro livro de autora ‘VOL I’, pela editora Pierre von Kleist e ‘Caucase, Souvenirs de Voyage’, pela Fundação Calouste Gulbenkian em 2011. Realizou também diversos filmes. Em 2015 recebeu o prémio de Artes Visuais, do melhor trabalho fotográfico do ano, “The Passenger” pela Sociedade Portuguesa de Autores. Em 2016 foi nomeada para o Prémio “NOVO BANCO Photo 2016”, pela série “The Behaviour of Being”, tendo apresentado “Quel Pedra” no Museu Berardo. Esteve durante cinco anos representada na Galeria 3+1 Arte Contemporânea e sete anos pela Galeria das Salgadeiras, em Lisboa. Actualmente colabora com diversas galerias. Parte da sua obra pertence a coleccionadores privados e institucionais, tais como Fundação Calouste Gulbenkian, Partex, Fundação EDP e Novo Banco. |