Dwelling Poetics Of Dystopia #1

Dwelling Poetics of Dystopia #1 é o resultado da residência artística de Mestre André no Serviço de Pequena Cirurgia. Após 3 meses a habitar na Casa, o artista apresenta uma série de instalações sonoras fruto dos momentos passados por cá. Sempre em work in progress.

“—Mestre, não parece estar em si hoje. O que se passa?
—Boa pergunta, Ziyou. Acabei de entrar num mundo onde me esqueci da minha própria existência.
Sabes, tu já ouviste a música das pessoas, mas nunca ouviste a música da terra.”
Tsai Chih Chung — Zhuangzi Speaks

Poetics of Dwelling (“poética da permanência”) é o resultado vivo da ecologia senciente de uma pessoa num determinado território. É um lugar tornado pessoal através da sua fruição, assim fundindo-se consigo. A relação pessoal com o espaço.

A Distopia é a anedota em que vivemos e, dentro dela, esta exposição—um falso mito, uma chorografia forjada (da Geografia de Ptolomeu—choros), um não-lugar.

Não existe, na concepção destas peças, um sub-texto conceptual inerente que não a intenção de criar uma falsa paisagem sonora imersiva. Mas certamente emergirá uma falsa ecologia sónica, e nessa o visitante é convidado a habitar e nela construir a sua própria poética da permanência.

“O equilíbrio do oikos [do grego: eco/casa/família] é dinâmico porque é alcançado através de tensão, uma corda esticada por um cabo-de-guerra entre forças opostas. A sua harmonia apenas emerge a um nível macroscópico, ambos no espaço e no tempo; visto microscopicamente, num sítio e momento precisos, os membros da família—ou o organismo de uma ecologia—empurram-se, ombreiam-se e ajustam-se uns aos outros incessantemente.”
Lorraine Daston – Against Nature

www.mestreandre.net

Inauguração : 12 de Novembro – 19H00 – 22H00
* 13 e 14 de Novembro: 17H00 – 22H00



Narrativas Fotográficas do Intendente: Inauguração da Exposição da 2ª Parte da 10ª Edição

Inauguração da Exposição “Narrativas Fotográficas do Intendente” pelos alunos da 10ª Edição do Workshop a cargo da fotógrafa Pauliana Valente Pimentel.

O 10º Workshop foi dividido em duas exposições, a primeira edição contou com os trabalhos de Alice Fevereiro, Filipe Bianchi, Margarida Neves e Maria Helena da Bernarda. Esta segunda edição contará com os trabalhos de Mag Rodrigues, Mariana Difini e Paulo Ribeiro.

➤ DEUS E O DIABO ESTÃO NOS DETALHES
harmonia de singularidades no Intendente por Mag Rodrigues

Ao capturar imagens do Intendente, apercebi-me que é possível encontrar uma harmonia ao colocar em diálogo os detalhes dos diferentes lugares. Criei, assim, uma sequência de momentos assente na parecença de pormenores — a luz, a cor, a perspectiva, as pessoas:
– há aqui um paralelismo.
O Intendente está cheio de cores fortes, formas variadas, indivíduos de vários pontos do mundo. É um ponto geográfico com uma miscelânea incrível. Num local tão cheio de diversidade, torna-se desafiante encontrar pontos de encontro – a verdade é que eles existem. A semelhança entre esses detalhes, numa zona tão díspar do resto da cidade como o Intendente, é o mote deste trabalho fotográfico.

➤ A COZINHA POPULAR DA MOURARIA por Mariana Difini

A Cozinha Popular da Mouraria, que abriu suas portas em novembro de 2012, nasceu do sonho da fotógrafa Adriana Freie de ter uma cozinha cheia de gente. Aos poucos, a cozinha foi se tornando exatamente isso.
Há oportunidades para quem quer trabalhar, para quem quer aprender. É um espaço de troca de culturas, de partilhar as mesas, de dividir o tempo.
A comida é variada, cada dia há um prato diferente para o almoço. Há comida brasileira, angolana, portuguesa seja de onde for, desde que seja bem feita. Os pratos simples e cheios e sabor enchem a barirga e o coração.
A cozinha é aberta, a luz entra pelo teto transparente e ilumina a sala, as mesas vão se enchendo, todos sorriem. Isso é o que vi na Cozinha, e que ma cativou logo de início.
Aos sábados, nos almoços comunitários, a casa vai enchendo logo pela manhã, todos ajudam, todos compartilham, o vinho enche os copos e a festa está feita.
A Cozinha Popular da Mouraria é um lugar de encontro, de alimentar, de sorrir e, acima de tudo de partilhar.

➤ DE PASSAGEM, PASSING BY por Paulo Ribeiro

Na passagem pelo Intendente procurei transpôr para esse contexto particular uma abordagem fotográfica inspirada na “street photography”. O método seguido foi o da “tentativa e erro”, muito devedor da curadoria e direção de Pauliana Valente Pimentel. As balizas que nortearam a recolha de imagens foram progressivamente delimitando fronteiras nas dimensões territorial e humana.
Na realidade, uma das dimensões que mais (me) atrai neste território é a sua diversidade cultural, resultado de um avassalador cruzamento de práticas e de valores culturais e étnicos que têm uma tradução visual e que alteraram e continuam a alterar esse território. Essas práticas não só incluem actividades e valores tradicionalmente associados a esta zona da cidade, nos limites da marginalidade, como mostra o recente desabrochar comercial. A toda essa pujança comercial talvez possamos chamar “sonho independente” (afinal a “street photography” surgiu a expor as contradições do “american dream”) porque sendo português e lisboeta, cruza afinal tantas nacionalidades, credos e práticas culturais. Cada imagem não deixa de ser, também, um jogo de troca de olhares de passagem que podem revelar surpresas, cumplicidades ou desconfianças, de uma espécie de sucessão de “atores” com que me fui cruzando por um longo “palco” que é o Intendente, face a um cenário marcado por um fundo de ruído quotidiano que também é muito visual, elementos da construção destas narrativas do Intendente.

Exposição: 10ª Edição das Narrativas do Intendente – 1ª Parte

• Inauguração da Exposição “Narrativas Fotográficas do Intendente” pelos alunos da 10ª Edição do Workshop “Narrativas Fotográficas no Intendente” a cargo da fotógrafa Pauliana Valente Pimentel.

• O 10º Workshop será dividido em duas exposições, a segunda contará com os trabalhos de Paulo Ribeiro Baptista, Mariana Difini e Magda Rodrigues.

• Inauguração: 29 de MAIO • 21H00 • Casa Independente
• Encerramento: 27 de JULHO

1ª PARTE:

➤ JOY BANGLA por Filipe Bianchi

A distância que separa Portugal do Bangladesh, país asiático rodeado pela Índia e pela Birmânia, não se percorre seguramente em pouco tempo, mesmo utilizando o avião como meio de transporte. Tal facto não impede que o Intendente, em Lisboa, seja o destino de um grande número de pessoas originárias dessa região. Os fracos recursos económicos que caracterizam a maioria da população do Bangladesh são um incentivo para a procura de melhores condições de vida, longe da sua terra natal. Esta vibrante comunidade, com um forte sentido nacionalista, concentra a sua actividade aqui, neste bairro histórico, em busca de uma independência financeira que proporcione um futuro mais estável, sem deixar cair no esquecimento a ligação ao outro lado do mundo. “Joy Bangla”, uma expressão muito comum entre os Bangladeshis, manifestação de patriotismo, liberdade e independência, é o ponto de partida para o meu olhar sobre o Intendente, focado nessa comunidade masculina, amplamente presente.

➤ VAIVÉM por Alice Fevereiro

O comércio no bairro do Intendente manifesta-se de uma forma intensa e peculiar, refletindo vivências inerentes a esta zona multicultural e procurando responder aos anseios de quem ali vive ou se encontra de passagem. As montras das lojas, cartões de visita e chamariz para os eventuais clientes, assumiram, desde logo, o papel de protagonismo imediato perante os meus olhos. O apelo fez-se pela estética, pela singularidade ou por características específicas que evocam o bairro e os seus habitantes. A dinâmica da rua e o movimento constante que aqui se sente levaram-me, de seguida, ao elemento humano e ao seu envolvimento com esses espaços, retratando-os na sua diversidade e identidade. Este projecto fotográfico pretende traçar um mapa de um Intendente vivo e plural, partindo do seu ambiente exterior para a recolha da sua essência e originalidade.

➤ ARTES GRÁFICAS JMA LDA. por Margarida Neves

Instalada desde 1998 num pátio interior da Rua da Palma, a Gráfica de Jorge de Melo Augusto vai resistindo aos métodos modernos de impressão, vivendo sobretudo de encomendas de pequenos e médios comerciantes. O ambiente, familiar e acolhedor, rege-se pelo amor a esta arte onde a partilha das técnicas e das memórias associadas se faz com alegria e desejo de continuidade. Fruto do progresso, o futuro mostra-se algo incerto mas a vontade de seguir em frente permanece viva. Este trabalho fotográfico pretende documentar a alma deste espaço, preenchido com o quotidiano do Sr. Augusto, do Sr. Ramos e do Sr. Santos.

➤ RAMIRO por Maria Helena da Bernarda

A cervejaria Ramiro existe foi fundada em 1956 no Intendente. É uma marisqueira que conquistou um nível de popularidade e reconhecimento ímpares e a mais visitada de Lisboa. Os turistas enchem o espaço, mas também os clientes fieis, que por lá passam todos os dias beber uma cerveja ao balcão e abraçar os empregados que ali trabalham, na maior parte dos casos, há varias décadas. A história do Ramiro é também a história do próprio intendente. Fotografar o Ramiro é fotografar o marisco vivo, os turistas, os sorrisos e os abraços que ali acontecem.

29 MAI | 21H | ENTRADA LIVRE